Grenal, ora!

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quinta-feira, 20 de setembro de 2012


  Desfile Farroupilha II
  (o I está mais abaixo)


    E nem vou repetir tudo, embora tudo tenha se repetido. Pra pior.
    Ontem, 19 de setembro, o Conversas Cruzadas (programa de TV pra quem é não daqui), outra vez debateu o Movimento Farroupilha: o que tem a ver conosco, qual a sua importância, se deixa ou não o povo mais sei lá o quê, e blá blá blá, blá blá blá.
    E, como sempre, como é costume nessas bandas, mais do que debater, os convidados (e telespectadores que se prestam a mandar textos) se dividem e polarizam a questão. Porque aqui, como em lugar nenhum, a verdade tem apenas dois lados. Sempre, seja ela qual for. Aliás, a produção insiste nisso. E nem é preciso dizer o quanto se perde. Arejar com novas idéias, pra quê.

   Mas eu insisto. Como não fui convidada, nunca sou pois não represento nenhuma entidade de peso nem sou ligada a qualquer movimento, e ainda por cima sou mulher, coisa que pesa naquele programa, e artista sobretudo, com idéias que, bem... sabe-se lá o que essa pessoa vai dizer, bem, pra isso tenho esse blog. Pra isso os caras que criaram a internet imaginaram que a coisa serviria. E a palavra ainda é de-mo-cra-cia.
  Embora tenha certeza de que meus pensamentos só serão lidos depois que eu morrer, ou se ficar muito famosa, ou sei lá. Ou não. Mas falo.

  Quanto à pergunta do programa: o que é que o Movimento Farroupilha desperta em nossa identidade, se contribui ou não para ela, e algo por aí - desculpe a imprecisão, mas afinal já se passaram 24hs e é exigir demais de uma cabeça moderna que já viu e ouviu tanto de lá para cá -, enquanto via o programa - e não de todo, pois temos a mania nós modernos de zapear, e levantar, e fazer outras coisas -, lembrava de algumas coisas que andei lendo nos últimos tempos sobre esses tempos chamados, precisamente, de pós-modernos.

  Mas antes, é bom sempre lembrar que, quando se pensa em TRADIÇÃO, justamente se conjura o seu oposto, a MODERNIDADE. E, só pra me contrariar, voltamos outra vez à tal da dualidade.
  Há no ser humano, desde o seu nascimento, duas correntes em luta eterna: a vontade de regressar ao passado - pois lá ele estava numa boa, naquele útero quentinho, confortável e protetor, e é isso que ele inconscientemente busca - e o desejo de se desidentificar do todo e dedicar-se ao desenvolvimento da própria identidade. Na Astrologia e para os povos pré-cristãos ambos impulsos são simbolizados pela Lua e pelo Sol. Para os orientais, os famosos Yin e Yang. Impulsos tão naturais e indissolúveis quanto a noite e o dia.
   Na medida em que o ser humano se afasta do conforto e da segurança dos valores familiares, tradicionais, ele sente culpa. E essa culpa é bíblica, é aquela de Adão e Eva. Pagamos um preço por sairmos do Paraíso. Em compensação...

  E seja porque acreditou em si o suficiente para evoluir racionalmente, desenvolvendo uma tecnologia extremamente sofisticada, seja porque continua sendo a mesma besta fera que assassina e tortura, e coloca os seus interesses pessoais à frente do bem estar coletivo, o ser humano, gaúcho ou não, acabou fazendo desse planeta um inferno, para não sair do contexto bíblico.

  Pois dizem bons mestres da sociologia que por conta de tantos avanços tecnológicos e pela vida nas grandes metrópoles, todos, acabamos atualmente sofrendo de um mal muito pitoresco, que é a tal da Super-Escolha. Em vez de pegarmos na prateleira do super mercado, por exemplo, uma simples pasta de dentes, somos obrigados a pensar muito sobre qual tipo da pasta será mais benéfica para os nossos dentes. E nem é bom falar em xampu. E muito menos nas opções de "ligue se..." que tem justificado muito ataque homicida até agora.

  Quando fazemos umas dez escolhas dessas por dia, e em geral fazemos mais muitas vezes, nosso sistema nervoso se sobrecarrega. Até as crianças já sofrem de uma série de doenças raras e modernas.
  E é exatamente para voltarmos a alguma zona de conforto, que precisamos fugir da pressão da escolha, ou da super escolha e... pelo menos ter alguém que possa escolher por nós.

  E como ter "alguém que escolha por nós" caiu em desuso, parecendo coisa de atitude servil e anti-democrática, elegemos "ó divina solução!" um grupo, que não apenas escolhe, como faz tudo parecer já pré-determinado, tipo as coisas devem ser exatamente assim. É um colegiado, uma assembléia, não um só indivíduo que decide o que posso ou não fazer.

 Então, hoje em dia, as pessoas assistem em massa a novelas para ter com quem comentar no dia seguinte, vão a estádios - cada vez menos para ver e torcer pelo esporte e cada vez mais para se pegar a pau na saída do jogo - usando símbolos reconhecidos que lhes garantem muitos "irmãos", são punks, emos, fãs do Elvis (este grupo ainda ganha fácil da população de pequenos países e até de algumas religiões). E fazem parte do Movimento da Semana Farroupilha sem nem saber mesmo o que foi a tal Revolução Farroupilha, se comemoram sua vitória ou derrota, se a cidade aqui era imperialista ou o quê. Querem é se pilchar e sair lindas a desfilar, se encharcando de gordura de carne e ouvindo músicas que no seu dia a dia de Michel Teló e Ivete Sangalo não encontram espaço.

  Ser gaúcho, entre os dias 8 (porque até o 7 se comemora fazer parte do império) e 23 (mais estendido para pegar o feriadão) de setembro nos dá uma sensação de que, pelo menos agora, fazemos parte de algo. Na nossa cabeça, uma tremenda paz de espírito.

  Até a próxima data. Pena que dessa vez, no meio, tenhamos que sair dessa paz e escolhermos um candidato.
  Mas logo virá o Natal, e outra vez, em meio a velas, decorações, festas e presentes, e o inferno das festas em família, encontraremos a nossa turma, agora a dos católicos.
  Fugindo assim da super-escolha, por toda a carga que o sistema sem dó nem piedade joga sobre os nossos ombros, deixamos de fazer talvez a mais importante e definitiva: quem sou eu e o que quero da minha vida. Porque se entendêssemos realmente esta, as outras ficariam, senão mais fáceis, pelo menos re ou i-relevantes.

  E sobre o Desfile propriamente dito, não sei se rio ou choro, ao ver que "o melhor momento", o mais aguardado, o tão sonhado por quem desfila, seja justamente aquele em que ele levanta a mãozinha para o governador, ou autoridade, que está assistindo de camarote.
  Mas... e se estão comemorando a tal Revolução..., não era pra fazerem outra coisa? Não digo atacá-lo com chumbo, mas pelo menos uma boa cuspida, uma cagada do cavalo, qualquer coisa simples assim. Pelo menos pra comemorar a data à altura. Acho que indiada ia adorar.

   
 
















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Saudades... sempre.

Saudades... sempre.
texto mais abaixo/ leia ouvindo Amália Rodrigues

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
Ôôpsss

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
Ôôôpppsss...

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
puxa...

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
ainda...

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
Puxa, eu já vi esse filme...

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
será?...

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
Esse(s) é reprise... (ou o último dos irmãos Marx).

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
O espírito não morre?...

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
?...

Desfile Farroupilha

Desfile Farroupilha
Ah!... agora, sim.